Quinta-feira, 17 de Janeiro de 2008

Teixeira dos Santos a Traça

É conhecido que as traças, e outros insectos, têm uma atracção irrefreável pela luz. Este fetiche chega ao ponto de muitas vezes terem um comportamento suicida, voando directamente ao encontro da luz das chamas de velas, ou como é mais corrente, de encontro às lâmpadas roxas que prontamente descarregam sobre elas uma carga eléctrica fatal. (Apesar de ser um concorrente do indefectível DUM DUM, há que reconhecer que a morte de um insecto às mão de uma lâmpada roxa, num qualquer talho deste país, é um espectáculo merecedor de observação cuidada. Ele é um mundo de cores incandescentes, sons cripitantes e quitina carbonizada….ahhhh!…. Mas deixemos estes encantadores devaneios) Embora este comportamento de auto-imolação, nos possa parecer intencional e incrivelmente estúpido, ele resulta de facto de um erro por parte dos insectos. A chegada de luz artificial é recente à escala evolutiva, até há algumas décadas as únicas fontes de iluminação nocturna eram a luz das estrelas e da Lua. Estes corpos celestes, situados no infinito óptico, são usados pelos insectos para se orientarem nos céus nocturnos. O pensamento de um comum insecto não deve andar longe de “voa direito aquela bola branca de luz (Lua) porque depois é só fazer o percurso inverso para chegar a casa”. Os problemas começam quando a fonte luminosa não é a Lua, nem um qualquer corpo no infinito, mas uma vela, relativamente próxima que oferece um final bem cálido à vida da pobre traça. Moral da história, os insectos pagam caro os seus erros.
            Há no entanto uma espécie de traças particular, que poderemos designar como Traçus políticos, que aqui se encontra representada pelo Ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, cujos erros não acarretam consequências pessoais, mas são antes imputados a todos nós. O INE divulgou esta semana que o valor da inflação em 2007 se situou nos 2,5% e não nos 2,1% como previu em Janeiro Teixeira dos Santos. Este foi o valor que serviu de referência na negociação dos aumentos da função pública, tendo sido apregoado, aquando das rondas negociais, que os portugueses não iriam perder poder de compra. Mas perderam, 0,4%, o que num salário médio de 1000 € se traduz em 4€/ano. Já para o estado as contas são outras, este erro de cálculo permitiu ao governo amealhar 50 milhões de euros, que muito jeito devem ter dado no infatigável combate ao défice!!! Ou seja, todos nós, sim porque os aumentos definidos pelo estado são geralmente seguidos no sector privado, pagamos este ano 4€ pelo erro do Sr. Ministro. Mas está situação não é caso singular, atente-se ao gráfico abaixo onde se comparam os valores previstos para a inflação e os seus valores reais.

             Nos últimos 9 anos os governos do PS e do PSD, erraram sempre por defeito o valor da inflação. Que curioso! Este facto contraria a regra das estimativas, de que a margem de erro, em qualquer previsão se distribui de uma forma aleatória acima e abaixo do valor estimado. A UGT estima, que nestes últimos 9 anos os trabalhadores portugueses tenham sido lesados em 7,1% do seu poder de compra, ou seja, para o mesmo vencimento médio de 1000€, corresponde a uma perda de 71€/mês!!!. Isto significa que para os padrões de vida actuais, os trabalhadores ganham menos 71€/mês do que há 9 anos, só devido a erros de estimativa de inflação!!! Não serve um governo para garantir melhores condições de vida aos seus habitantes?
            Indexar os valores dos aumentos à inflação significa que se façam estimativas honestas deste valor e que nos casos em que se verifiquem desvios se procedam aos respectivos acertos, em vez de se dizer “Ai estava errado? Xiii que azar, pá! Deixem lá, para o ano garanto que acerto.” Já em Outubro passado o governo reviu o valor da inflação de 2,1% para 2,3%, sem procedeu contudo aos devidos acertos.
            Mais uma vez para 2008, o governo indexou o valor dos aumentos salariais à inflação prevista, 2,1% e mais uma vez o Exmo. Sr. Primeiro Ministro Eng? José Sócrates veio dar a sua palavra de que os portugueses não perderiam poder de compra, não obstante as instituições internacionais apontarem o valor da inflação para os 2,4%.  
            Ao contrário das traças, que pagam os seus erros com a vida, os erros do Governo no que concerne à previsão da inflação fazem lembrar aquela carta do monopólio – Engano no banco a seu favor, acaba de ganhar 50 milhões de Euros!                    
publicado por Nuno Susana às 14:01
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