Segunda-feira, 7 de Janeiro de 2008

Rali Lisboa-Lisboa

 

    Deverei considerar uma carreira no mundo da cartomancia ou da astrologia? Afinal não foi necessário aguardar muito para que as minhas previsões que me levaram a constituir este blog se corroborassem: “Cheira-me que o ano de 2008 será abundante em seres profundamente irritantes, determinados a atazanar a vida a todos nós. O primeiro coleóptero do ano a dar um ar da sua graça fê-lo logo em grande, instalando uma irritação e indignação tão acentuadas que extravasaram as fronteiras do país. O merecedor da honoravel distinção de primeira fumigação de Dum Dum é Etiene Lavigne , director do Rali Lisboa – Dakar, ao optar pelo cancelamento da prova face a ameaças de atentados terroristas na Mauritânia, por parte da Al-Qaeda . Até à presente data o rali sempre encontrou forma de superar os inúmeros entraves, contratempos e imprevistos que se lhe colocaram. Desde conflitos regionais, mortes de pilotos, etapas canceladas, outras redesenhadas, ou encurtadas, o ralie encontrou sempre um caminho que conduziu os participantes às areias das praias de Dakar. A verdadeira essência da prova foi sempre a superação de tarefas herculianas , a transcendência de limites pessoais, quer por parte de participantes, quer por parte da organização. Este ano desistiram mesmo antes de partir.      

 A anulação da prova deste ano é um sério revés à continuidade da prova. Os prejuízos causados por uma decisão precipitada são incalculáveis, estima-se que só o governo da República, como diz o tio Alberto, ficou a arder com 3 milhões de Euros, juntem-se os investimentos das autarquias, organização, patrocinadores da prova e dos pilotos e os números deverão ascender as centenas de milhões de euros. Mas isto são apenas os prejuízos directos, faltam contabilizar os restantes, que vão desde catering, hotéis, logística, etc … Não deverá ser fácil no próximo ano reunir o mesmo volume de apoios para que se reuniu este ano, afinal bastará um qualquer meliante no norte de África se lembre novamente de despachar uns turistas europeus e diga que o fez em nome da Al-Qaeda para que novamente todo o investimento seja colocado em causa. Quem quererá investir uns largos milhares de euros numa prova que poderá nem acontecer? Afinal, o risco de ceder a chantagens e a pretensões terroristas é este mesmo, surtindo a ameaça resultados uma vez está criado o incentivo para que a  graça se repita.
Pode argumentar-se que Lavigene teve primeiramente em conta a segurança dos participantes da prova, que se o Rali se tivesse realizado e a ameaça de atentados se tivesse concretizado, rapidamente correria a palavra que a organização da prova não acautelou devidamente os riscos e só teve em conta os aspectos financeiros. Portanto, e perante as alternativas existentes Lavigne tomou a decisão mais prudente. O logro deste argumento é considerar que só haviam duas alternativas, correr-se ou não o Rali . Havia uma terceira via, a alteração do traçado da prova. É verdade que 7 dos 15 dias da prova tinham por cenário o deserto da Mauritânia, e que alterar 50% do traçado da prova não é de todo tarefa fácil. É também verdade que considerar a passagem do rali pelos países vizinhos da Mauritânia, Argélia e Mali, estava fora de questão, uma vez que estes países haviam sido excluídos da prova precisamente por questões de segurança. Era difícil? Sim! Mas não impossível!
Como? Acrescentava-se um dia de prova em Portugal, outro em Espanha, com certeza que os nuestros hermanos não se iriam importar, mais uma ou duas etapas em Marrocos, que até poderiam passar pela repetição de etapas, mas no sentido inverso, depois uma ponte aérea para o Senegal e ai, de novo, mais uma ou duas etapas, extra. Ai está os sete dias da Mauritânia eram redistribuídos pelos restantes países que servem de cenário à prova. O Rali até poderia ser encurtado, nem seria acontecimento inédito, poderia gerar-se algum caos, mas afinal não é esse precisamente disso que vive o espírito deste Rali , o imprevisto constante?
O cancelamento da prova deveria ter sido a última opção e claramente não o foi. Lavigne foi cobarde e ignorante, claramente não considerou todas as alternativas, nem todas as repercussões da sua decisão. A verdadeira vítima da Al-Qaeda , que ameaça tornar-se numa vítima mortal é o Dakar, ainda por cima na edição que comemorava o seu 30º aniversário. Paz à sua alma!   
publicado por Nuno Susana às 09:38
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